Germinar afro

PARTE I:
Sonho

Eu quero nós livres.
Mas o racismo e a supremacia branca
Podem ser
engenho-sos.
Nos alienam, seduzem e manipulam…
-está olhando em qual lugar está?

De camarote
Levantam o polegar
Quando conseguem
A nossa miséria e desunião.

Enquanto
Tentam nos prender e matar,
abafando
os nossos feitos, sem o respeito e sensibilidade
Com as nossas dores.

Mas,
hoje punhos erguidos
Transgridem os horrores,
exaltando a beleza e história profunda
de nossas peles pretas
em múltiplas cores e gestos de amor
que gingam, mandigam e desde nosso DNA
ecoam resistências com louvor.

Mas quem (nos) lembra apenas
dos sorrisos sequestrados,
e corpos mutilados?

O passado é presente,
Mas na real às vezes
Selecionamos as máscaras
Ou correntes, a retirar…

Ao acharmos que
Revolução é somente
Particular.
É assim que morremos,
sem renovar?

De preto para preto, seu sentido da cor,
com a opressão diária, pode ser tenso e doído.
Tem cuidado com o risco de afetos deslocados,
e assim ressentidos?
-Sou seu igual. E, o auto-ódio é chibata do inimigo.

Devagarinho,
Vamos chegando e,
lutando para negritar bem alto as palavras
a nos faltar.

Sonhando afroperspectivar
Novos sonhos a florescer,
Construiremos outros quilombos ao amanhecer?
Pois, só unidos seremos livres.

Nossos sonhos
Podem ser estrondosos
Com imaginação ilimitada em correspondência e agô
no horizonte por vir,
me dá um abraço e chega aqui?
Afinal, quem desejamos ser quando
O afeto crescer e nos reconstruir?

PARTE II
Habilitação

Aquele pedacinho da carne preta
Que queima e sangra aí
Também faz parte de mim.
Ainda terei lágrimas para chorar?

É escutando Elza Soares que canto repetindo:
Eu não vou sucumbir.
Só que a certeza ainda não sabe quem eu sou.

Quero dirigir à minha vida
Mas às vezes a humilhação me impede de
Ser motorista,
Tento não acostumar a pegar carona,
Porém a sirene da polícia toca,
me “confunde”
e de repente nem habilitado a respirar estou.
O que precisa para tirar a carteira?

PARTE III
Trabalho ou amor?

O salário tá longe, é recém dia 20,
Acorda cedo, se apressa,
toma um café preto,
-será que ainda faz efeito?

O cansaço segue aqui,
em frenesi.

Preciso de lazer,
a minha carne tá moída.
Quando avisaram que ela podia ser a preterida?

Minhas olheiras são janelas dos sonhos
Que parecem embaçados.
Lá se vai mais um dia de expediente:
Submisso e amordaçado?

-Sai pra lá.

Gasto até o último minuto do meu intervalo
pensando em amor,
aqui dão risada…
Pois, o roteiro ao meu corpo é tipo terror:
Objeto viril, malicioso e pegador.

Na troca de turno deixo toda a aridez aqui,
Penso comigo: só ignora.
E apelo para mais uma dose de café
adoçada com petulância,
antes de sair no sapatinho porta afora.

Com o céu
da cor cinza chumbo derretendo,
ao entardecer, ele tudo cobre.
E na calçada entre concretos e detritos,
Uma babosa esverdeada cresce e o colore…

Mais alguns passos
e, as poças dão um tom policromático no ar
a olhares astutos que se inclinam no real,
sem deixar as telas e algoritmos
convidativos em nos automatizar
no virtual.

Tô chegando na roda de slam,
Já guardei um lugar pra ti
hoje não vamos rimar,
mas bora sentir?

Tô pela chegada da lua
Para segurar a sua mão sem medo.
Nenhum filtro ou edição de foto,
vai ser preciso.
Porque já temos o orgânico em
melanina abundante e sorriso.

Não precisa ter medo,
já lemos bell hooks
É compromisso,
amor preto cura, se for coletivo, circulante e político.

E as contas?!
– Deixa para de manhã…

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