Esquecer nunca, perdoar jamais

Em algum lugar ao norte
Lá onde o diabo perdeu as botas
Onde não existem traçadas rotas
Vivia um povo com sorte.

Lá o céu era azul
E o sol nascia ao sul,
Lá só tinha gente do bem.
E tudo corria bem.

Os habitantes do lugar
Não tinha com o que se preocupar,
Viviam maravilhosamente bem
Sem fazer mal a (quase) ninguém.

E lá na mãe África
A brisa embalava os seixos
E tudo andava nos eixos
Era uma terra fértil e rica.

A natureza cumpria a sua parte,
O cenário era uma obra de arte,
E tudo corria às mil maravilhas
No continente e nas ilhas.

Parecia que nada, ninguém,
Ou mesmo alguém,
Poderia acabar
Com a paz daquele lugar.

Então da noite para o dia,
Sem aviso ou melodia,
Chegaram as naus,
Cheia de homens maus.

Não havia o que fazer,
Não havia para onde correr,
Foi tudo muito rápido,
Silencioso e tático.

Não houve tempo para gritar.
Não houve tempo para escapar.
Não houve preparo para o embarque
Não houve tempo nem para perguntar por quê?

O chicote hoje virou peça de museu,
Só quem sentiu o açoite,
No corpo dia e noite.
Lembra do que aconteceu.

A escravidão chegou ao fim.
Hoje, alguns até nos estendem a mão,
Fazemos parte da “sociedade”, enfim,
Mas, estamos sempre na contramão.

No Super ou no Shopping o guarda
Nos aguarda.
Para eles negro é ladrão,
Este é o padrão.

Mas será que todo negro é ladrão?
Parece que sim.
Por que a perseguição não tem fim.
E gritam, é ladrão, é ladrão.

Não importa se a nossa roupa é de marca.
Não importa se o tênis é importado.
Não importa se o cabelo é crespo ou alisado.
Parece que ladrão é a nossa marca.

Negros não podem ter carro
Porque tiram sarro,
Dizendo, ai negrão,
Dirigindo o carro do patrão!

Parece brincadeira, mas não é,
Eles adoram pegar no nosso pé,
Esperam de nós qualquer reação,
Para poderem nos matar com razão.

Quando são Confrontados de jeito
Partem logo pra ofensa,
O perdão pedido não compensa,
Dizem que negro não tem jeito!

Mas qual o jeito que devemos ter?
Devemos continuar sendo submissos,
Calados e omissos?
E deixar que eles continuem a nos bater?

Não! Claro que não.
Hoje somos amigos do nosso inimigo.
Nosso inimigo quer ser nosso amigo.
Hoje até nos estendem a mão.

Eles querem o nosso perdão,
Dizem que foi em outra geração,
Que não foi um ato pensado,
E que deve ser perdoado.

Claro que foi um ato pensado,
Foi um ato muito bem planejado,
Organizado e meticulosamente furtivo
Com fim meramente lucrativo.

A dor causada ainda é lembrada,
A dor sentida ainda assombra
O grito contido ainda ecoa
O sangue ainda escoa.

Quem sofreu não quer perdoar
E nem esquecer o sofrimento sofrido,
É impossível esquecer o corpo dolorido.
Não dá para esquecer e nem perdoar.

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